Um Pão Especial!
A liturgia do 17º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta connosco para repartir o seu “pão” com todos aqueles que têm “fome” de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas” são convidados a realizar.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.
O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da “fome” da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo. (Ver as leituras do dia)
PROCURA DA PALAVRA
«Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?» Jo 6, 9
Quando o pouco é tudo!
Dos sinais de Jesus que mais ficaram na memória dos discípulos, a multiplicação dos pães tem um lugar singular. É verdade que a Bíblia contém relatos maravilhosos em que Deus alimenta o povo, nomeadamente com o maná na caminhada do deserto, mas a experiência daqueles pães e peixes que a multidão comeu até à saciedade é algo único. Todos os evangelistas o relatam, sublinhando o cuidado de Jesus em alimentar, não só com a palavra, mas em preocupar-se, também, com a fome natural dos seus irmãos.
A palavra “crise” tem servido para “amenizar” a realidade de muitas situações que são mesmo de “fome”. As pessoas e instituições que procuram apoiar os mais carenciados bem conhecem os rostos reais de quem sente esse drama quotidiano. E se a fome pode ser o último passo de uma dignidade perdida, ela começa pelo desemprego, a perda de habitação, e um futuro que se vai tornando “um dia de cada vez”. Não há soluções fáceis, e nem a multiplicação dos pães de Jesus aconteceu para resolver a fome, mas um mundo comandado exclusivamente pelos poderes financeiros, também não parece trazer grande esperança. A fome no mundo não resulta apenas da escassez de alimentos, mas sobretudo da falta de solidariedade, e de interesses financeiros que absolutizam o lucro e a ganância.
Que pode dizer-nos, então, este sinal de Jesus? Primeiro, que não adianta “pregar a estômagos vazios”, e que a transformação social e o desenvolvimento humano é uma das primeiras consequências da boa nova de Jesus. O nosso Deus ama de tal modo o mundo que tem um projecto de justiça e salvação para todos. Depois, é Jesus que percebe a fome daquela gente e apresenta aos discípulos a necessidade de a alimentar. Ah, quantas necessidades dos irmãos Jesus nos apresenta, e nós mais preocupados com a solenidade das liturgias! Comprar pão para todos? Impossível, não têm dinheiro! Partilhar? Mas o que encontram é a insignificância de cinco pães e dois peixes que um jovem trouxe! Pois é com essa migalha que Jesus fará o milagre. Quando o que damos é tudo, Deus pode realizar o impensável! A descrição tem o sabor da Eucaristia, quando Jesus entrega o “tudo” da sua vida. Como não poderia Ele multiplicar também a nossa vida, se lha déssemos toda?!
“Dívida”, “ratings”, “resgate”, e tantas outras palavras apontam para a complexidade da economia e da política deste tempo. Em que tudo e todos estamos ligados. E onde a transparência do que somos e temos é tão importante. Que mais apelos nos faz este evangelho, pelo menos a nós, cristãos, que comungamos com Jesus o amor a este mundo?
P. Vítor Gonçalves
in VOZ DA VERDADE 29.07.2012
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