Reavivar o dom da fé e crescer
na caridade
A Quaresma é uma data anual muito
importante e significativa para os cristãos. É o tempo que mais nos interpela
na vertente das opções relativas à renovação da nossa vida espiritual.
No contexto do Ano da Fé, não
podemos deixar de pôr em relevo este tempo propício e precioso para reavivar a
nossa fé em Jesus Cristo e para fazer uma revisão sobre a vivência da fé
no nosso quotidiano.
O caminho da fé é um caminho de
conversão
A Quarta-Feira de Cinzas é o pórtico
de entrada na Quaresma, a lembrar-nos, com o seu rito próprio, que não existe
fé sem conversão. De facto, a imposição das cinzas é acompanhada pela primeira
palavra de Jesus no início do seu ministério: “Convertei-vos e acreditai no
Evangelho” (Mc 1, 14-15).
O caminho da fé é, ao mesmo tempo,
um caminho de conversão, isto é, de orientação da vida que leva a Deus, ao
reconhecimento do seu primado, à sua escuta, ao seu acolhimento, para fazer
face à tentação do esquecimento de Deus.
Isto supõe, por sua vez, uma
profunda purificação de nós mesmos, uma cura interior, uma renovação da mente e
do coração, do pensamento e dos sentimentos. Perceber, com sincera humildade, a
necessidade que temos, pessoal e comunitariamente, de converter-nos é o
primeiro passo a darmos, como discípulos e como Igreja de Cristo, para
revitalizar a fé pessoal e das nossas comunidades e para reavivar o entusiasmo
do testemunho. O verdadeiro défice da Igreja não é tanto de organização, mas
sobretudo de fé e de espiritualidade.
Fé e Caridade de mãos dadas
O Santo Padre Bento XVI escreveu uma
bela mensagem para a Quaresma, intitulada “Crer na caridade suscita caridade”.
Retomando um símbolo antigo, mas sempre atual, típico da espiritualidade
bíblica, indica o percurso cristão da Quaresma do seguinte modo: “A
existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e
depois voltar a descê-lo, trazendo o amor e a força que daí derivam, para
servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus”.
De seguida, o Papa aponta dois
grandes objetivos concretos: “A Quaresma, com as indicações que
tradicionalmente dá para a vida cristã, convida-nos a alimentar a fé com uma
escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos
sacramentos, e ao mesmo tempo a crescer na caridade, no amor a Deus e ao
próximo”. A fé e a caridade são duas faces da mesma medalha, da nossa pertença
a Cristo. Quem crê, aprende a dar-se ao outro; e a caridade suscita a fé e dá
testemunho dela. “Só nos tornamos cristãos, se a fé se transforma em
caridade, se é caridade” (Bento XVI).
Reavivar o dom da Fé
Assim, somos chamados a aproveitar
este tempo da Quaresma de modo especial, para redescobrirmos a beleza e o
encanto da fé, para renovarmos o nosso caminho de fé pessoal e comunitário,
através dos exercícios espirituais de mais intensa escuta da Palavra, de mais
fervorosa oração e de mais frequente participação na Eucaristia e no sacramento
da Reconciliação. Como nos anos anteriores, incentivamos os fiéis a fazerem o “Retiro
espiritual do Povo de Deus” na forma de leitura orante da Palavra de Deus,
com o título “Partilhar o tesouro da fé”.
Além disso, também está disponível
uma catequese mistagógica sobre “O Credo dos Apóstolos: a beleza da
profissão de fé cristã”, que eu próprio elaborei e que pode ser usada em
várias ocasiões e de vários modos.
Convido, ainda, a todos a porem no
seu programa da Quaresma a participação na peregrinação diocesana a Fátima,
no dia 17 de março, sob o lema “Com Maria, caminhamos pela fé”.
Crescer na Caridade: a renúncia
quaresmal e a partilha
A conversão quaresmal propõe-nos
gestos concretos de renúncia, tais como o jejum e a abstinência, que não se
limitam apenas ao âmbito da alimentação e da bebida. A renúncia está em função
da partilha. É bom recordar sempre a regra de ouro de toda a prática
penitencial: nós renunciamos a algo, para dar espaço à Graça de Deus em nós e
ao amor aos irmãos.
Neste momento de dificuldade
económica, torna-se ainda mais evidente que é necessário partilhar.
Compreende-o bem quem tem um coração bom e generoso: mesmo se não se tem muito,
pode-se continuar a ajudar quem tem ainda menos.
Nesta linha, a coleta da renúncia
quaresmal na nossa diocese será destinada, em partes iguais, para a Cáritas
Diocesana e para o Fundo Social Solidário instituído pela Conferência
Episcopal Portuguesa.
A todos os diocesanos desejo um
caminho luminoso em direção à Páscoa do “Ano da Fé”, acompanhados pela luz
sempre presente da fé e da caridade de Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja.
Leiria, 11 de fevereiro de 2013.
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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