sábado, 13 de julho de 2013

A oração em catequese, um convite à intimidade com Deus

Sendo a finalidade da catequese colocar o catequizando, não só em contacto, mas sobretudo, em comunhão e intimidade com Deus, a caminhada catequética deve estar imbuída de um verdadeiro clima de oração, que favoreça e realize esta intimidade. Na sua Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, João Paulo II refere que «a catequese não consiste apenas em ensinar a doutrina, mas deve iniciar o catequizando para a vida e a vivência cristã» (CT 33). Ora, sendo a oração uma importante dimensão da vida cristã, é essencial que, em cada encontro catequético, se desperte no catequizando a necessidade de se encontrar e de conversar com Deus; de se abrir para escutá-Lo e sentir que Ele está presente e caminha ao seu lado, em todos os momentos da sua vida.  
A oração é diálogo e encontro entre Deus e cada pessoa. É um encontro pessoal. Por isso, quando na catequese se escuta a Palavra de Deus, inicia-se um momento de especial intimidade com Ele. A catequese deve, pois, tornar-se momento privilegiado de escuta da voz do Pai.
Para que este encontro íntimo e dialogante entre o catequizando e Deus aconteça, é preciso que, em cada sessão da catequese, se crie um clima de acolhimento, de silêncio, onde se escuta e se celebra a Palavra de Deus e a Sua mensagem de salvação. Somente numa atitude de escuta e de abertura à Sua Palavra é que o catequizando se escuta a si próprio e escuta o chamamento de Deus, entrando em diálogo interpessoal com Ele. No silêncio interior, a Palavra de Deus ressoa em nós e do nosso coração nasce uma resposta de amor. Quando celebramos, escutamos, interiorizamos e nos convertemos à Sua Palavra, estamos a fazer oração, ou seja, estamos a entrar em comunhão com Deus. A catequese deve promover no catequizando este momento de intimidade com Deus e saber aproveitá-lo.
Não obstante, a oração não acontece apenas no encontro da catequese, de modo que as crianças e adolescentes devem ser iniciados à vida de oração no seu quotidiano. Na verdade, sendo a oração algo “espontâneo” que brota do íntimo de cada um, é, pois, essencial que se crie no catequizando a convicção que, em qualquer situação e lugar, pode sentir a presença de Deus e dialogar com Ele. Mas aí a família assume um papel importante. É fundamental que os pais dediquem, cada dia, um momento para estar com os seus filhos num clima de oração, interiorizando neles este encontro com Deus.

Em jeito de conclusão, verificámos que o ato catequético é chamado a ser em si mesmo um ato de oração. A catequese não prepara apenas os catequizandos para a oração; ela é já oração, despertando nelas este encontro de amor com Jesus Cristo. Se assim não for, não é catequese.

Catequista


A luz da fé

O escritor António Alçada Baptista conta uma história exemplar, na primeira pessoa: «Uma vez eu fui operado e estava só no hospital com  meu pai. Tinha uma dor pegada das unhas dos pés às pontas dos cabelos e meu pai estava ao pé de mim. Eu tinha já 19 anos, mas apeteceu-me a sua mão humana e paterna e disse-lhe:

- Deixe-me ver a sua mão.
- Para quê?
- Preciso da sua mão.
Ele sorriu-se e deu-ma, mas imediatamente começaram a funcionar dentro de si as pesadas estruturas marialvas e académicas que recusam a um filho de 19 anos a mão terna dum pai. E, disfarçadamente, começou a retirar a sua mão até que a minha continuou pedinte, mas só e unilateral.».
«Preciso da tua mão». O conhecimento de Deus só pode ser um conhecimento vivido, profundamente experimental. Essa é uma afirmação espantosa que atravessa toda a Revelação Bíblica, tanto do Antigo como do Novo Testamento. Deus está. O Deus transcendente “vê”, “escuta”, “compadece-se”, “mostra-se”, “permite o encontro”. Pense-se no passo fundamental do Livro do Êxodo: «Eu vi, Eu vi a miséria do Meu povo que está no Egipto, ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores, pois Eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo» ( Ex 3,7). A Escritura foge assim a definições e constrói uma gramática eminentemente narrativa. Não conceptualiza: narra, relata, exemplifica. E as imagens que nos oferece de Deus atestam que Ele está presente.   
Com mais razão ainda, o Evangelho de Jesus desautoriza-nos a persistir em fórmulas obscuras. A viragem que Jesus introduz é considerar Deus a partir de dentro. Jesus apresenta-Se como o Filho de Deus. E a relação que mantém com Deus é uma relação filial. Isto é, Jesus vem dizer que Deus O impregna profundamente a ponto de Ele ser Filho e se descobrir como tal. Não é apenas um conhecimento especial que Jesus fornece de Deus. É outra coisa: Deus é a fonte que plasma e ilumina a criatividade messiânica das Suas palavras e dos Seus gestos (Jo 14,8-11)... De certa maneira, o programa de Jesus outra coisa não é que esta filiação. Mergulhados na sua páscoa, somos chamados a viver do seu Espírito, configurados à sua realidade, atravessados e guiados pela sua luz. 
É fundamental percebermos que a relevância do discurso cristão parte, antes de tudo, da sua essência. Claro que o papa Francisco ir ao desembarcadouro de Lampedusa, reclamar corajosamente por políticas mais humanas, deve colher a atenção de todos. Mas de igual maneira deveria ser escutado quando nos propõe, com límpido desassombro, uma reflexão sobre a fé. 

Artigo retirado do P. Tolentino publicado na.agencia.ecclesia.pt

Considero isto muito verdadeiro


XV Dom. Comum - C

AMAR CONCRETAMENTE !


Por vezes, diante de alguém que fala bem mas não faz nada, dizemos: é um teórico, só tem boas palavras. É esta a figura que fazemos se a nossa fé não leva ao amor: somos uns teóricos da fé!

1.DEUS AMA-NOS
- No salmo, meditávamos como Senhor nos escuta, Ele que “ouve os pobres”.
- Deus escuta-nos porque é amor e podemos pedir-Lhe que se volte para nós!
- Não nos ama por nós merecermos, mas ama-nos porque é um Deus de amor.
- A primeira atitude de fé consiste em aceitar, reconhecer e agradecer esse rio de amor infinito, que corre do coração de Deus para cada um de nós.
- Porém, ao mesmo tempo que Deus nos ouve, também, pede que O escutemos.
- Moisés diz: “escutarás e cumprirás”...
- Quem? – Tu, membro do Povo, isto é, qualquer um! Trabalhador, estudante...
- Esta Palavra tem de ser acolhida com o ouvido, chegar ao coração e manifestar-se na vida!

2.CONVIDA-NOS A AMAR
- O “amor pede amor”. O amor de Deus atrai o nosso amor, mesmo que este seja pequeno, imperfeito, instável... Importa é que seja sincero.
- Deus quer um amor em duas direções.
- Um amor de resposta a Deus e um amor de iniciativa para com o próximo.
- Quem é o meu próximo? –Qualquer um que precise(um homem, uma mulher...).
- Quem é o bom samaritano? – Qualquer um que se disponha a amar! Jesus coloca no melhor papel um herege, um ignorante (“nem se sabe benzer”).
- O Bom Samaritano por excelência é Cristo, que desce do alto da sua divindade para nos curar e nos levantar do chão, fazendo-nos ressuscitar pela sua graça!
- A Palavra de hoje faz-me escolher Jesus como o tesouro da minha vida: “Em tudo Ele tem o primeiro lugar”, pois n’Ele está “toda a plenitude”.
- Essa escolha abre-me à caridade, não a um amor sentimental, só de intenções, mas concreto, que toma a iniciativa, capaz de “fazer bem sem olhar a quem”.

3.COM AMOR CONCRETO
- Amamos a Deus procurando em cada instante o que mais Lhe agrada (e que corresponde ao nosso bem) fugindo do mal, do egoísmo e d e todo o pecado.
- Os mandamentos são marcos, como estremas entre o bem e o mal!
- Amamos a Deus pelo tempo que Lhe damos na oração, na escuta da Palavra, que é luz para os nossos passos, e na atenção aos irmãos que precisam de  nós.
- Não podemos separar a oração da caridade. Amamos o próximo, como expressão do nosso amor a Deus, sem desculpas e sem pressas.
- O sacerdote e o levita da parábola, se tocassem em sangue, ficariam impuros e já não poderiam, durante certo tempo, fazer o seu trabalho no Templo.
- Mas, o amor está acima de tudo. Amar o próximo é gastar tempo com ele, sujar as mãos se for preciso, fazer-lhe tudo o que a sua dignidade exige.
- Qual a razão principal? É que em Cristo somos um só Corpo. Se amo a Cabeça (Cristo) também preciso de amar os membros do Corpo que são os irmãos.
- Com a parábola, compreendemos que o único caminho de felicidade é o amor verdadeiro, à maneira do Bom Samaritano, isto é, à maneira de Cristo.

Nesta semana, como diz a letra de uma canção: “Ama se queres ser feliz” !

Pe. José Cardoso


sábado, 6 de julho de 2013

Encíclica do Papa Francisco - Luz da Fé

O Papa Francisco, que hoje publicou a sua primeira encíclica, afirma que a relação da fé com o mundo contemporâneo é marcada pela desconfiança e reitera a importância de acreditar num sentido transcendente para a vida.
“Quando o homem pensa que, afastando-se de Deus, se encontrará a si mesmo, a sua existência fracassa”, escreve, no documento intitulado ‘Lumen fidei’ (Luz da fé).
O Papa argentino, que retoma a reflexão do seu predecessor, Bento XVI, assinala que muitos veem na fé um elemento das “sociedades antigas” que não serve para “os novos tempos, para o homem tornado adulto, orgulhoso da sua razão”.
“Nesta perspetiva, a fé aparecia como uma luz ilusória, que impedia o homem de cultivar a ousadia do saber”, observa, ao citar o filósofo alemão Nietzsche (1844-1900), segundo o qual “o crer opor-se-ia ao indagar”.
Assim, indica o Papa, a fé acabou por ser associada à “escuridão” e entendida como um “salto no vazio”, capaz de “aquecer o coração e consolar pessoalmente, mas impossível de ser proposta aos outros como luz objetiva e comum para iluminar o caminho”.
Francisco defende que a fé cristã não é “um refúgio para gente sem coragem” e evoca o poeta norte-americano T. S. Eliot (1888-1965) para evidenciar que “quando a fé esmorece, há o risco de esmorecerem também os fundamentos do viver”.
“Se tiramos a fé em Deus das nossas cidades, enfraquecer-se-á a confiança entre nós, apenas o medo nos manterá unidos, e a estabilidade ficará ameaçada”, avisa.
O Papa afirma que a fé não faz esquecer “os sofrimentos do mundo”, mas oferece a resposta de Deus para “abrir” nestes “uma brecha de luz”.
Francisco destaca o facto de a crença no “amor de Deus criador” levar a um “maior respeito para a natureza”, recusando modelos de progresso que se baseiem apenas “na utilidade e no lucro”.
A reflexão papal sustenta também que o olhar da ciência “tira benefícios da fé”, pois “convida o cientista a permanecer aberto à realidade, em toda a sua riqueza inesgotável”.
O texto passa em revista a história da fé na Bíblia, que passa por Abraão, o povo de Israel e Moisés, entre outros: “A fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama pelo nome”.
Segundo Francisco, esta fé, enquanto “memória do futuro”, está intimamente ligada com a esperança.
“A fé supõe que a palavra – uma realidade aparentemente efémera e passageira –, quando é pronunciada pelo Deus fiel, se torna no que de mais seguro e inabalável pode haver”, frisa.
A encíclica evoca a “tentação da incredulidade” e a “idolatria”, que recusam “um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o mistério próprio de um Rosto que pretende revelar-se de forma pessoal e no momento oportuno”.
Neste contexto, aborda-se a impossibilidade de “ver Deus pessoalmente” de que se lamentava o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), refutando qualquer interferência humana.
“A partir de uma conceção individualista e limitada do conhecimento é impossível compreender o sentido da mediação”, alerta o documento.
O Papa acrescenta, noutra passagem, que os mandamentos não são “um conjunto de preceitos negativos, mas de indicações concretas para sair do deserto do ‘eu’ autorreferencial” e entrar em diálogo com Deus.
OC

14º Domingo do Tempo Comum


Embora as leituras de hoje nos projectem em sentidos diversos, domina a temática do “envio”: na figura dos 72 discípulos do Evangelho, na figura do profeta anónimo que fala aos habitantes de Jerusalém do Deus que os ama, ou na figura do apóstolo Paulo que anuncia a glória da cruz, somos convidados a tomar consciência de que Deus nos envia a testemunhar o seu Reino.

É, sobretudo, no Evangelho que a temática do “envio” aparece mais desenvolvida. Os discípulos de Jesus são enviados ao mundo para continuar a obra libertadora que Jesus começou e para propor a Boa Nova do Reino aos homens de toda a terra, sem excepção; devem fazê-lo com urgência, com simplicidade e com amor. Na acção dos discípulos, torna-se realidade a vitória do Reino sobre tudo o que oprime e escraviza o homem.

Na primeira leitura, apresenta-se a palavra de um profeta anónimo, enviado a proclamar o amor de pai e de mãe que Deus tem pelo seu Povo. O profeta é sempre um enviado que, em nome de Deus, consola os homens, liberta-os do medo e acena-lhes com a esperança do mundo novo que está para chegar.


Na segunda leitura, o apóstolo Paulo deixa claro qual o caminho que o apóstolo deve percorrer: não o podem mover interesses de orgulho e de glória, mas apenas o testemunho da cruz – isto é, o testemunho desse Jesus, que amou radicalmente e fez da sua vida um dom a todos. Mesmo no sofrimento, o apóstolo tem de testemunhar, com a própria vida, o amor radical; é daí que nasce a vida nova do Homem Novo.