José Tolentino Mendonça
É verdade que o nome Francisco tem
representantes de altíssimo alcance na tradição (de Francisco de Assis a Francisco
Xavier ou a Francisco de Sales), mas porventura ao ouvir a escolha do nome
“Francisco”, por parte do novo papa, o pensamento da maioria de nós se tenha
virado para a figura dopoverello e para as palavras que lhe dirigiu o Cristo de São Damião: “Francisco,
reconstrói a minha Igreja”. A Igreja de que Jorge Mario Bergoglio é agora
pastor precisa evidentemente de reconstrução. Os desafios são imensos, quer
internamente quer no diálogo com o mundo. Os tempos são de reconfiguração: o
que se sente é que as estruturas herdadas de uma determinada época estão
exaustas (por exemplo, o estrito modelo da paroquialização) e não servem
convenientemente as realidades emergentes no seio da própria Igreja. O problema
da rarefação das comunidades tem-se agravado. A transmissão da fé debate-se com
problemas evidentes que as estatísticas dolorosamente descrevem. A formação do
laicado, que surgiu com uma força renovada no Concílio Vaticano II, arrefeceu;
e a verdade é que, mesmo com poucos padres a Igreja continua demasiado
clericalista. O ministério dos presbíteros não só não tem crescido para
satisfazer as necessidades do quadro pastoral, mas passa hoje por uma
indefinição quanto ao estilo de presença. Por outro lado, o mundo
complexifica-se sempre mais e a cultura deixa de partilhar com o cristianismo
uma gramática simbólica comum, ao mesmo tempo que lhe dirige um olhar ora
indiferente, ora expectante.
Que se pode esperar do Papa Francisco? Da
sua primeira alocução, marcada por uma inspiradora simplicidade, ficaram-nos
duas palavras e um gesto. A primeira palavra foi “confiança”. Retomando a
imagem da Igreja como caminho, o papa referiu a necessidade de um pacto de
“confiança entre nós”. E a Igreja precisa de reganhar confiança. A outra
palavra foi “fraternidade”. Muito se tem falado ao longo das últimas décadas de
construirmos um modelo de Igreja comunional, mas todos conhecemos as
dificuldades e impasses. Sem dúvida, que só uma comunidade que se interpreta em
chave fraternal pode dar corpo a formas efetivas de comunhão. E o gesto – um
maravilhoso gesto – foi o novo papa inclinar-se para acolher a oração do povo
que pedia a bênção de Deus para o seu pastor. Quando o papa abençoou a Igreja e
as mulheres e os homens de boa vontade, sentimos que uma nova estação começou.
Sem comentários:
Enviar um comentário