sábado, 16 de março de 2013

Francisco, reconstrói a minha Igreja


  José Tolentino Mendonça

É verdade que o nome Francisco tem representantes de altíssimo alcance na tradição (de Francisco de Assis a Francisco Xavier ou a Francisco de Sales), mas porventura ao ouvir a escolha do nome “Francisco”, por parte do novo papa, o pensamento da maioria de nós se tenha virado para a figura dopoverello e para as palavras que lhe dirigiu o Cristo de São Damião: “Francisco, reconstrói a minha Igreja”. A Igreja de que Jorge Mario Bergoglio é agora pastor precisa evidentemente de reconstrução. Os desafios são imensos, quer internamente quer no diálogo com o mundo. Os tempos são de reconfiguração: o que se sente é que as estruturas herdadas de uma determinada época estão exaustas (por exemplo, o estrito modelo da paroquialização) e não servem convenientemente as realidades emergentes no seio da própria Igreja. O problema da rarefação das comunidades tem-se agravado. A transmissão da fé debate-se com problemas evidentes que as estatísticas dolorosamente descrevem. A formação do laicado, que surgiu com uma força renovada no Concílio Vaticano II, arrefeceu; e a verdade é que, mesmo com poucos padres a Igreja continua demasiado clericalista. O ministério dos presbíteros não só não tem crescido para satisfazer as necessidades do quadro pastoral, mas passa hoje por uma indefinição quanto ao estilo de presença. Por outro lado, o mundo complexifica-se sempre mais e a cultura deixa de partilhar com o cristianismo uma gramática simbólica comum, ao mesmo tempo que lhe dirige um olhar ora indiferente, ora expectante. 
Que se pode esperar do Papa Francisco? Da sua primeira alocução, marcada por uma inspiradora simplicidade, ficaram-nos duas palavras e um gesto. A primeira palavra foi “confiança”. Retomando a imagem da Igreja como caminho, o papa referiu a necessidade de um pacto de “confiança entre nós”. E a Igreja precisa de reganhar confiança. A outra palavra foi “fraternidade”. Muito se tem falado ao longo das últimas décadas de construirmos um modelo de Igreja comunional, mas todos conhecemos as dificuldades e impasses. Sem dúvida, que só uma comunidade que se interpreta em chave fraternal pode dar corpo a formas efetivas de comunhão. E o gesto – um maravilhoso gesto – foi o novo papa inclinar-se para acolher a oração do povo que pedia a bênção de Deus para o seu pastor. Quando o papa abençoou a Igreja e as mulheres e os homens de boa vontade, sentimos que uma nova estação começou.


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